O Cristão pode divorciar-se e casar-se de novo?
O tema do divórcio tem atormentado muitos cristãos que, por razões tantas, viram-se na situação de divorciarem-se de seus cônjuges. Por esta razão, a questão de se pode um cristão divorciar-se toma relevos dos mais importantes e deve, portanto, ser enfrentada com base nas Escrituras Sagradas. Vejamos.
Para fins didáticos, vamos dividir a explanação do divórcio em três princípios centrais, sendo o primeiro deles o seguinte:
Princípio 1: Deus não quer o divórcio, pois criou o casamento para ser eterno.
O livro de Mateus estabelece essas duas verdades, quais sejam, a da criação divina do matrimônio entre homem e mulher e a do caráter eterno desta relação matrimonial, senão vejamos:
“Ele [Jesus] respondeu: ‘Vocês não leram que, no princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’ e disse: ‘Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’? Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém o separe”. (Mateus, 19:4-6).
Assim, entendemos que o casamento eterno é um dos pontos mais importantes do plano de Deus; tanto o é, que Ele odeia o divórcio, conforme vemos no livro de Malaquias, cujo trecho apresento logo a seguir:
“‘Eu odeio o divórcio’, diz o Senhor, o Deus de Israel, e ‘o homem que se cobre de violência como se cobre de roupas’, diz o Senhor dos Exércitos. Por isso tenham bom senso; não sejam infiéis” (Malaquias 2:16).
Como consequência da entrada do pecado no mundo, contudo, tendo ciência da natureza pecaminosa do ser humano e mesmo contra o que Ele deseja para o homem, Deus permitiu o divórcio em duas situações específicas, de maneira que podemos já estabelecer a nossa segunda afirmação central:
Princípio 2: Embora Deus não queira o divórcio, Ele o aceita em duas situações: a) infidelidade de um dos cônjuges; e b) o cônjuge não crente deixa o cônjuge crente, fazendo com que este fique livre para novo casamento.
A situação (a), ou seja, a da infidelidade do cônjuge, encontra respaldo no livro de Mateus, quando se estabelece que:
“aquele que repudiar sua mulher, exceto por infidelidade, e casar com outra, comete adultério” (Mateus 19:9, grifo posto).
A situação (b), é dizer, aquele em que o cônjuge não crente abandona o crente, é embasada na primeira carta aos Coríntios, especificamente quando estabelece que:
“se o descrente separar-se, que se separe. Em tais casos, o irmão ou a irmã não fica debaixo de servidão; Deus nos chamou para vivermos em paz” (1 Coríntios 7:15).
Ainda em relação a esta hipótese, nunca é demais esclarecer que “descrente” (ἄπιστος, no original em grego) não é sinônimo de pessoa que não vai à igreja. As igrejas podem estar cheias de descrentes, pois só Deus é que sonda o coração do homem (1 Samuel 16:7).
A palavra “descrente” tem o sentido de infiel, incrédulo, sem confiança em Deus, o que pode se referir inclusive a uma pessoa que se diz crente e congrega em uma igreja, mas tem o coração apartado do Senhor.
Ademais, devemos ter sempre em mente que as Escrituras dizem que:
“Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente” (1 Timóteo 5:8).
Assim, no caso de abandono do lar, abandono da família, e outros que caracterizem falta de cuidado da família, o outro cônjuge está livre para o divórcio, pois se trata da hipótese de abandono do cônjuge crente pelo descrente, ou seja, a situação (b) apresentada na afirmação (2).
Gostaria de lembrar ainda que, além dessas duas situações em que Deus aceita o divórcio, Ele também permite um novo casamento em uma terceira situação: quando um dos cônjuges falece, conforme vemos na carta aos Romanos (7:1-3).
Fora isso, resta-nos ainda perguntar qual deve ser a postura dos cristãos que estão pensando em se divorciar.
Ora, fora das hipóteses elencadas, Deus não aceita o divórcio, de maneira que resta a um cônjuge perdoar o erro que o outro lhe tenha feito, conforme nos ensinam as Escrituras (Efésios 4:32, e Colossenses 3:13).
É importante enfatizarmos que este perdão pode ser feito inclusive nas situações em que Deus aceita o divórcio, pois, embora aceite, conforme vimos, Ele não o deseja. O desejo de Deus é, repito, que não haja o divórcio, embora ele o aceite em certas hipóteses, já que vivemos em um mundo fragmentado.
Não podemos negar que há situações de cristãos que se divorciam fora dos casos aceitos por Deus. E, nessas situações, é que aparece uma dúvida que é essencial e tem atormentado muitos crentes bem intencionados: “caso eu tenha me divorciado fora das hipóteses da Bíblia, eu poderei me casar de novo?”
Para responder a essas questões, gostaria de apresentar o terceiro princípio:
Princípio 3: Com a nova aliança, somos aptos a receber perdão de Deus por todos os nossos pecados, inclusive o do divórcio fora dos casos permitidos por Deus.
As Escrituras dizem que:
“E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas” (Colossenses 2:13).
Assim, aquele que se divorciou fora das hipóteses que, embora Deus não queira, aceita que ocorra, cometeu pecado, mas isso não quer dizer que ele está condenado para sempre.
Se verdadeiramente se arrependeu da transgressão que efetuou contra a Palavra de Deus e pediu perdão ao Senhor, livre está para casar-se de novo, pois se Deus é apto a perdoar a todos os que o procuram, por que haveria o homem de não jogar no mar do esquecimento aquilo que nem o Senhor dos senhores mais quer lembrar?
Mas, cuidado! Se alguém planeja se divorciar já contanto com o perdão, deve-se lembrar que é necessário o arrependimento verdadeiro e, conforme todos sabemos e, repetindo o que já foi dito, é impossível enganar a Deus.
Caso queira ler mais respostas bíblicas a perguntas da vida prática, como esta sobre o divórcio do crente, sugiro que adquira o livro "Cristianismo Simples", tanto disponível em nossa loja quanto no formato para Kindle.
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Deus abençoe,
Tassos Lycurgo